Cthulhu Dice - resenha
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Cthulhu Dice - resenha
- Vai lá, desenha isso de uma vez.
O cultista, de joelhos na pedra, com o giz na mão, ao contrário do que poderia ser esperado, parou de desenhar e encarou seu colega de culto com o típico olhar de alguém que, ao chegar no cinema, ouve que o tempo na fila foi perdido porque a sessão está lotada e que, por sinal, a promoção não é válida para aquele dia em particular.
- Você acha que é fácil desenhar um pentagrama na pedra? Isso não é um quadro de escola. Isso é pedra. Sabe como é difícil manter uma linha reta na pedra?
- É... - O cultista de pé estava numa situação em que tinha duas opções: continuar a discussão e correr o risco de ter de ser ele a desenhar o pentagrama, ou terminar a discussão, ainda achando estar correto em reclamar da demora, com o benefício adicional de não ter nenhum trabalho extra para fazer. - Deve ser difícil - disse, decidindo-se.
- Não é fácil - concordou o outro, satisfeito de obter reconhecimento, o tipo de obtenção que vem de lugar nenhum, nem é dado, e sim criado e enviado por correio para si mesma, para que dê a ilusão aos demais tipos de reconhecimento que ele merece. - Trouxe o bode?
- Galinha.
Aquele que desenhava parou por um tempo avaliando a resposta. Seria um jogo? Algum tipo de teste psicológico para dizer a primeira coisa que viesse à cabeça? O tom foi defensivo, experimental, de quem vê-se obrigado a adivinhar a idade ou peso de uma mulher que lhe interessa, mas que tem beleza o suficiente para achar elogios falsos aborrecidos.
- Galinha?
- Galinha.
O que desenhava esticou o pescoço para olhar atrás do outro e, por certo, o saco de estopa parecia estar ciscando o solo rochoso, ou a própria estopa. Era difícil identificar. O que desenhava suspirou de forma audível e esfregou os olhos.
- Isso, por ventura, é algum maldito ritual de vodu?
- Tente você achar um bode preto na cidade. Ele pode ter mil filhos, mas nenhum deles por aqui.
O cultista que desenhava coçou a cabeça, tentando desviar a raiva para outra atividade.
- Nem ao menos um galo?
- Galinha.
- É preta ao menos?
- É sim. Não toda, mas é.
Outro suspiro. Mais pesado e lento que o outro. A frustração era mais densa que o ar.
- Vai ter que dar, então. Bem, passe-me a vela.
Não houve movimento. O cultista no chão largou o giz, bateu as mãos para limpá-las e, depois de colocá-las com cuidado em cima das coxas, olhou o outro. - A vela - insistiu.
- Então... - O cultista de pé hesitou esperando ser interrompido. Esperava ser interrompido, daria mais tempo para elaborar algo melhor, mas não o foi. Assim, teve de continuar. - ... sabe que teve aquele blecaute um tempo atrás? Então, eu estava lendo quando a luz apagou. Eu estava perto do final! O Langdon estava quase descobrindo quem era o Professor. Então eu procurei por uma vela, mas na gaveta não tinha mais. Então eu...
- Pare. - O cultista inspirou, tentando puxar qualquer calma que houvesse no ambiente. Havia, pelo jeito, bem pouca. - Você quer me dizer que usou a Vela de R'lyeh, feita com a gordura do coração de mil pecadores? Aquela que queima até debaixo d'água e até mesmos no abismo mais escuro do universo? É essa a vela que você usou? Para terminar de ler um livro?!
- Não um livro qualquer, é O Có...
O cultista no chão levantou uma mão de modo peremptório.
- Você quer me deixar louco, é isso, né?
Era uma pergunta retórica. Mal sabia ele que ela não deveria ser. Pois acontece que a resposta era "sim".
CTHULHU DICE - O JOGO
Imagem por ragados
Geral:
Cthulhu Dice é um jogo... bem, ele é um jogo no sentido que dois-ou-um é um jogo, ou que bater em porta-copos para pegá-los no ar é um jogo. Enfim, no... hã... jogo, cada um representa um cultista que quer derrubar os demais de forma a ser o principal servo de Cthulhu, de preferência antes que Cthulhu se irrite e devore a mente de todos os envolvidos.
Regras:
Você rola um dado e faz o que ele lhe indicar. É isso. Mas tem um extra: é um nome de Cthulhu! Vou descrever: você escolhe um alvo, então rola o dado de 12 faces (ou o Dodecaedro Cósmico, como prefiro chamá-lo) e o que pode sair é:
- Tentáculo: você rouba 1 ponto de Sanidade do alvo;
- Cthulhu: todos os cultistas perdem 1 ponto de Sanidade;
- Símbolo Amarelo: o alvo perde 1 ponto de Sanidade para Cthulhu;
- Símbolo Ancião: quem rolou o dado recebe 1 ponto de Sanidade de Cthulhu;
- Olho: quem rolou escolhe qualquer um dos outros efeitos.
Após o ataque, aquele que foi o alvo, devolve o ataque da mesma forma - rola o dado e age de acordo.
Desse modo vai até que reste somente um cultista são. Ele é o vencedor! Se todos ficarem loucos, Cthulhu vence!
Profundidade:
Nenhuma. Rola o dado e vê no que dá. Há duas decisões a serem feitas durante o jogo: quem será o alvo e quando sai o Olho, que efeito aplicar. Só isso, nada mais. Coloque um macaco jogando e ele tem quase as mesmas chances que qualquer outro de ganhar. Talvez mais, mas pelo menos quase a mesma chance.
Imagem por Gripen
Tema:
Cthulhu é conhecido. O Steve Jackson sabe disso. E ele gosta de dinheiro. Nada mais.
Produção:
É boa. As regras estão impressas em papel de boa gramatura e tudo colorido. As pedrinhas que representam a sanidade são eficientes (gosto especialmente das verdes). O dado é razoavelmente grande e os símbolos são bem visíveis. Por US$ 6.95, é um preço justo.
Imagem por herebebooks
Diversão:
Eu me surpreendi. O Cthulhu Dice é divertido. Não sempre. Nem para todas as pessoas. Mas serve como um excelente "quebra-gelo" em eventos, pois o número de participantes só é limitado pelo número de pedras para representar a sanidade - e isso pode ser substituído por qualquer tipo de marcador. Então sem grandes dificuldades o jogo pode acomodar mais do que o limite dos 6 participantes.
Ele dá a impressão de ser um jogo ao invés de somente um modo aleatório de determinar um vencedor. Por isso é mais divertido do que par-ou-ímpar em formato de mata-mata, que daria basicamente o mesmo resultado com o mesmo número de decisões (Par... ou ímpar? Tantas escolhas).
Vale a compra?
Ah. Essa é difícil. Vou evitar o sim ou não. Vocês que escolham.
Para as pessoas certas, ele serve e vale a compra. Afinal, o custo é relativamente baixo, e você ganha algo que pode jogar com pessoas com qualquer nível de experiência em jogos e até mesmo das mais diferentes idades. Também serve como uma brincadeira para escolher o jogador iniciar de um outro jogo. Porém o Cthulhu Dice tem uma utilidade tão particular, que para muitos vale a compra. É barato, mas para a maioria será jogar dinheiro fora com algo que ficará no armário pegando pó. Entretanto, nunca a compra lhe dará um grande arrependimento, devido ao preço.
Bem, é isso!
Abs,
O cultista, de joelhos na pedra, com o giz na mão, ao contrário do que poderia ser esperado, parou de desenhar e encarou seu colega de culto com o típico olhar de alguém que, ao chegar no cinema, ouve que o tempo na fila foi perdido porque a sessão está lotada e que, por sinal, a promoção não é válida para aquele dia em particular.
- Você acha que é fácil desenhar um pentagrama na pedra? Isso não é um quadro de escola. Isso é pedra. Sabe como é difícil manter uma linha reta na pedra?
- É... - O cultista de pé estava numa situação em que tinha duas opções: continuar a discussão e correr o risco de ter de ser ele a desenhar o pentagrama, ou terminar a discussão, ainda achando estar correto em reclamar da demora, com o benefício adicional de não ter nenhum trabalho extra para fazer. - Deve ser difícil - disse, decidindo-se.
- Não é fácil - concordou o outro, satisfeito de obter reconhecimento, o tipo de obtenção que vem de lugar nenhum, nem é dado, e sim criado e enviado por correio para si mesma, para que dê a ilusão aos demais tipos de reconhecimento que ele merece. - Trouxe o bode?
- Galinha.
Aquele que desenhava parou por um tempo avaliando a resposta. Seria um jogo? Algum tipo de teste psicológico para dizer a primeira coisa que viesse à cabeça? O tom foi defensivo, experimental, de quem vê-se obrigado a adivinhar a idade ou peso de uma mulher que lhe interessa, mas que tem beleza o suficiente para achar elogios falsos aborrecidos.
- Galinha?
- Galinha.
O que desenhava esticou o pescoço para olhar atrás do outro e, por certo, o saco de estopa parecia estar ciscando o solo rochoso, ou a própria estopa. Era difícil identificar. O que desenhava suspirou de forma audível e esfregou os olhos.
- Isso, por ventura, é algum maldito ritual de vodu?
- Tente você achar um bode preto na cidade. Ele pode ter mil filhos, mas nenhum deles por aqui.
O cultista que desenhava coçou a cabeça, tentando desviar a raiva para outra atividade.
- Nem ao menos um galo?
- Galinha.
- É preta ao menos?
- É sim. Não toda, mas é.
Outro suspiro. Mais pesado e lento que o outro. A frustração era mais densa que o ar.
- Vai ter que dar, então. Bem, passe-me a vela.
Não houve movimento. O cultista no chão largou o giz, bateu as mãos para limpá-las e, depois de colocá-las com cuidado em cima das coxas, olhou o outro. - A vela - insistiu.
- Então... - O cultista de pé hesitou esperando ser interrompido. Esperava ser interrompido, daria mais tempo para elaborar algo melhor, mas não o foi. Assim, teve de continuar. - ... sabe que teve aquele blecaute um tempo atrás? Então, eu estava lendo quando a luz apagou. Eu estava perto do final! O Langdon estava quase descobrindo quem era o Professor. Então eu procurei por uma vela, mas na gaveta não tinha mais. Então eu...
- Pare. - O cultista inspirou, tentando puxar qualquer calma que houvesse no ambiente. Havia, pelo jeito, bem pouca. - Você quer me dizer que usou a Vela de R'lyeh, feita com a gordura do coração de mil pecadores? Aquela que queima até debaixo d'água e até mesmos no abismo mais escuro do universo? É essa a vela que você usou? Para terminar de ler um livro?!
- Não um livro qualquer, é O Có...
O cultista no chão levantou uma mão de modo peremptório.
- Você quer me deixar louco, é isso, né?
Era uma pergunta retórica. Mal sabia ele que ela não deveria ser. Pois acontece que a resposta era "sim".
CTHULHU DICE - O JOGO
Imagem por ragados
Geral:
Cthulhu Dice é um jogo... bem, ele é um jogo no sentido que dois-ou-um é um jogo, ou que bater em porta-copos para pegá-los no ar é um jogo. Enfim, no... hã... jogo, cada um representa um cultista que quer derrubar os demais de forma a ser o principal servo de Cthulhu, de preferência antes que Cthulhu se irrite e devore a mente de todos os envolvidos.
Regras:
Você rola um dado e faz o que ele lhe indicar. É isso. Mas tem um extra: é um nome de Cthulhu! Vou descrever: você escolhe um alvo, então rola o dado de 12 faces (ou o Dodecaedro Cósmico, como prefiro chamá-lo) e o que pode sair é:
- Tentáculo: você rouba 1 ponto de Sanidade do alvo;
- Cthulhu: todos os cultistas perdem 1 ponto de Sanidade;
- Símbolo Amarelo: o alvo perde 1 ponto de Sanidade para Cthulhu;
- Símbolo Ancião: quem rolou o dado recebe 1 ponto de Sanidade de Cthulhu;
- Olho: quem rolou escolhe qualquer um dos outros efeitos.
Após o ataque, aquele que foi o alvo, devolve o ataque da mesma forma - rola o dado e age de acordo.
Desse modo vai até que reste somente um cultista são. Ele é o vencedor! Se todos ficarem loucos, Cthulhu vence!
Profundidade:
Nenhuma. Rola o dado e vê no que dá. Há duas decisões a serem feitas durante o jogo: quem será o alvo e quando sai o Olho, que efeito aplicar. Só isso, nada mais. Coloque um macaco jogando e ele tem quase as mesmas chances que qualquer outro de ganhar. Talvez mais, mas pelo menos quase a mesma chance.
Imagem por Gripen
Tema:
Cthulhu é conhecido. O Steve Jackson sabe disso. E ele gosta de dinheiro. Nada mais.
Produção:
É boa. As regras estão impressas em papel de boa gramatura e tudo colorido. As pedrinhas que representam a sanidade são eficientes (gosto especialmente das verdes). O dado é razoavelmente grande e os símbolos são bem visíveis. Por US$ 6.95, é um preço justo.
Imagem por herebebooks
Diversão:
Eu me surpreendi. O Cthulhu Dice é divertido. Não sempre. Nem para todas as pessoas. Mas serve como um excelente "quebra-gelo" em eventos, pois o número de participantes só é limitado pelo número de pedras para representar a sanidade - e isso pode ser substituído por qualquer tipo de marcador. Então sem grandes dificuldades o jogo pode acomodar mais do que o limite dos 6 participantes.
Ele dá a impressão de ser um jogo ao invés de somente um modo aleatório de determinar um vencedor. Por isso é mais divertido do que par-ou-ímpar em formato de mata-mata, que daria basicamente o mesmo resultado com o mesmo número de decisões (Par... ou ímpar? Tantas escolhas).
Vale a compra?
Ah. Essa é difícil. Vou evitar o sim ou não. Vocês que escolham.
Para as pessoas certas, ele serve e vale a compra. Afinal, o custo é relativamente baixo, e você ganha algo que pode jogar com pessoas com qualquer nível de experiência em jogos e até mesmo das mais diferentes idades. Também serve como uma brincadeira para escolher o jogador iniciar de um outro jogo. Porém o Cthulhu Dice tem uma utilidade tão particular, que para muitos vale a compra. É barato, mas para a maioria será jogar dinheiro fora com algo que ficará no armário pegando pó. Entretanto, nunca a compra lhe dará um grande arrependimento, devido ao preço.
Bem, é isso!
Abs,
Última edição por tiagovip em Ter Nov 25, 2014 12:09 pm, editado 3 vez(es)
Re: Cthulhu Dice - resenha
Também postada no blogue: https://curitibaludica.wordpress.com/2014/11/25/cthulhu-dice-resenha/
Re: Cthulhu Dice - resenha
Sua história vale mais do que o jogo.
Binderman- Middle-earth Quest
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Re: Cthulhu Dice - resenha
Legal a dramatização no começo, parece mais divertido que o jogo, como o Binder disse
Eder- Banco Imobiliário
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