Discurso ao jogo Netrunner no dia da separação

Pois bem, meu amigo Netrunner, hoje finalmente nos separamos após centenas de partida. Lembro quando o Lodinho trouxe um irmão seu aqui e eu - por que não comprar? Ah, o dólar a R$ 1,90. Depois falam mal do Lula. Enfim...

No início a febre se espalhou rapidamente... mas a maioria dos jogadores já estava inoculada, então apenas uns 12 caíram na doença... mas que doença! Em uma tarde, era possível jogar o jogo mais de 20 vezes! E com packs custando menos de 40 reais (sério, cheguei a pagar 32 reais num pack de 10 dólares), era festa toda semana.

Mas então, meu amigo, a questão é que ninguém pensou que a Fantasy Flight é a empresa mais fdp do mundo. Pois aquilo que se propagava - "ISTO NÃO É MAGIC" - virou... Magic! Com um pack por mês, e uma expansão a cada 6 meses, ficou impossível acompanhar. E ficou mais Magic ainda quando anunciaram que packs antigos não iam mais valer em campeonatos... começaram a vender decks prontos de vencedores de campeonatos...

Assim, as pessoas foram abandonando o barco... mas enquanto sobrasse pelo menos uns dois amigos mais próximos, eu te manteria. Mas o André vazou, o Trents... ficou só o Lodi...

Sim, a água já estava batendo nas coxas e era hora de zarpar...

Um core, 13 packs e 3 expansões trocados por 830 reais... 

Enquanto arrumava as cartas fiquei lembrando quão divertido era no começo, que tudo meio que era fraco e nada funcionava bem.

Aí lembrei que começou a aparecer cartas essenciais, fortíssimas, e a pessoa precisava ter um monte de coisas. 

E como haviam runners que pareciam tão ruins, mas a gente criava um deck só pra testar.

Com o tempo eles se demonstraram muito ruim mesmo.

Enfim, um jogo com uma temática tão boa... provavelmente o primeiro jogo do mundo com mulheres não sexualizadas e pessoas de todos os países e raças... virou mais uma vaca de ganhar dinheiro.  Fantasy Flight é realmente o MacDonald´s dos boards...

Mas voltando ao Netrunner, é isso... acabou... no turning back.

Ainda bem que ainda tenho o original:



E olha, pra ser sincero - o André nunca aceitaria isso - o que tem de bom no jogo tá aí. A FF só pegou o bonde andando e colocou uma roupa nova e fez bilhões...

Triste.

E isso que escrevi essas coisas ANTES de ver como está o jogo nos dias de hoje - quebrado. Agora eles lançam um pack, passa um dia e saem correndo para lançar erratas, pois as cartas estão criando decks imbatíveis... quer dizer, não estão testando antes de lançar.

Claro que isso ia acontecer, e por isso que eu nunca imaginei que fossem lançar um pack por mês pelo resto da vida. Mas continuam, pois continuam comprando.

No início haviam 150 cartas. Aí lança um pack com mais 20... ok, testa essas 20 contra as 150 antigas... depois lança mais 20, e testa elas com as 170 antigas...

Bem, hoje existe mais de 1100 cartas! A chance de uma carta nova quebrar o jogo e criar uma estratégia imbatível é muito, muito alta (e de fato vem acontecendo isso).

Zoado... Maldita vaca...

Imagine se o Agricola ou o Power Grid tivesse uma expansão a cada mês? Óbvio que ia ter expansão ruim.

E imagine que você fosse obrigado a jogar com elas!

foi divertido enquanto durou, para mim o jogo se pagou pelo menos umas 5x pela quantidade de diversão proporcionada, foram fácil mais de 300 partidas. Mas a quantidade de expansões que foram saindo começou a me brochar de continuar colecionando e acabei por deixar o jogo de lado por muito tempo, então era hora de ir embora. É triste saber que hoje em dia o jogo está ainda mais quebrado, na época que eu jogava já existiam cartas essenciais que tinham em todo deck, isso já era chato, pq mostrava o quanto algumas lacunas podiam ser exploradas para a vitória e tinham que ser corrigidas. Faz parte, jogão, mas que se perdeu no meio de tanto pack e expansão.

Me desfiz do Mage Wars, depois do Android: Netrunner, e colecionáveis e customizáveis pretendo não mexer com isso de novo.

Entendo vocês, mas no fundo achei uma coisa curiosa. Se o jogo é tão bom até um certo ponto pq não parar de comprar expansões ali e continuar jogando com o que vocês já tem?

doizinho escreveu:Entendo vocês, mas no fundo achei uma coisa curiosa. Se o jogo é tão bom até um certo ponto pq não parar de comprar expansões ali e continuar jogando com o que vocês já tem?

seria uma boa, mas o tempo que era bom era quando a coisa estava competitiva e todo mundo acabava comprando novas expansões com cartas cada vez mais roubadas e eu comecei a não me sentir tão competitivo mais, e o jogo começou a perder a graça. Somado a isso, 300 e poucas partidas fez com que o jogo começasse a enjoar.

doizinho escreveu:Entendo vocês, mas no fundo achei uma coisa curiosa. Se o jogo é tão bom até um certo ponto pq não parar de comprar expansões ali e continuar jogando com o que vocês já tem?

Uma boa questão, e a resposta é a seguinte:

Netrunner não é equilibrado. Para compensar isso, os jogadores viciados acreditam no que chamam de meta. Isto é, eles dizem assim: "o grupo de jogos se equilibra por si só". Isto é, começam a usar uma carta X, que é muito forte, o pessoal coloca a carta Y no deck, que anula a X. E por aí vai.

Mas isso é mentira de viciado. No campeonato mundial de 2016, TODOS os 16 melhores usavam a mesma facção para corp, e 90% a mesma facção para runner.

Por quê? Pois o jogo é feito para em determinado momento este ou aquele tipo de deck ser mais forte. Aí ele dura um tempo, e depois inventam cartas que anulam as anteriores, e outros decks ficam mais fortes. É mais fácil fazer assim, a posteriori, do que, digamos, testar as cartas e gerar sempre um equilíbrio que exija não você ter as cartas certas, mas saber jogar.

Isso obrigatoriamente obriga você a comprar e comprar. Por exemplo, eu curtia jogar com o Noise, que é um runner Anarch. E que era um lixo no início. Aí, lá pelo segundo ciclo, começou a aparecer cartas boas pra ele... uma por pack (me obrigava a comprar todos). Em determinado momento ele virou uma máquina! E assim começou a ter cartas que o fodiam. E eu precisaria continuar comprando para manter o deck competitivo.

Tudo muito lindo e divertido - bem Magic, é óbvio - mas há um problema.

No Android:Netrunner, há muitas cartas quebradaças. Tem uma carta chamado Astroscript - do Core - que é MEGA roubada. Há várias. Tem até umas que deixaram os campeões dos torneios inventarem e depois fodeu tudo. Lembro quando eu jogava com o André que ele usava uma chamada Architect que fodia o jogo geral, tirava toda a graça. Depois meio que limitaram ela...

Aí a FFG fica agora inventando erratas a dar com o pau. Mas mesmo assim, chequem os decks de corp mais vitoriosos desde as últimas 29 expansões:

Vejam que a NBN está com tudo, até que ferraram com ela em determinado momento. Se tivesse uma tabela desde o início do jogo as coisas não seriam tão diferentes, com a Weyland se ferrando geral.

Sendo simpático, na TEORIA seria possível que todo mundo vai ter seu lugar ao sol (nunca aconteceu), que em determinado momento teu runner favorito e tua corp favorita estarão bem.

Enfim, a resposta da questão: se fôssemos jogar o jogo onde paramos de comprar, alguém teria enormes vantagens e outros enormes desvantagens. Digamos que teria uma facção com mais de 60% de chance de vencer, e outra com menos de 10%. Aí quem está com estas ia precisar comprar mais e mais...

Ou faríamos decks muito iguais.

Na prática, se fôssemos continuar jogando, eu provavelmente quase sempre ganharia do Lodinho e do Trents, pois a facção que uso e o runner que uso estavam no topo (e meio que continuam). Agora o Trents teria uma chance de me passar na corp, não no runner. O Lodinho estaria ferrado até agora. 

A verdade é que para enganar uma pessoa você precisa ser muito carismático. Para enganar uma multidão, é só usar termos vagos e abstratos : "o jogo se equilibra", "o meta equilibra", "as combinações de decks são infinitas", "qualquer deck pode ser bom se o cara sabe pilotá-lo" (pilotar é o termo que se usa no Netrunner), etc.

Pra mim o pior de tudo é essa coisa de lançarem cartas quaisquer, e as seguintes "corrigem" essas, e as depois "corrigem" as seguintes, ad infinitum... aí taca uma errata, muda uns valores, e vai indo...

Faz sentido.

De qualquer forma, ainda penso que seria possível montar baralhos equilibrados com as cartas que vocês têm e jogar com eles, sem ter algo muito fora da curva ou muito abaixo - e mesmo tendo, ainda serviria para dar o deck forte para alguém mais fraco, usar o mais fraco para algum teste, nem que seja a si.

Mas é conversa boba, já que os decks de quase todos já eram.

Concordo também - na verdade, minha intenção era vender, digamos, 50% do que eu tinha, e com o resto montar decks. Ia ficar bacana, pois como seriam packs aleatórios, me obrigaria a montar decks nada a ver.

Mas me ofereceram um bom valor por tudo...



A propósito, uma carta lixo do Netrunner que é simplesmente ridícula tem o título:



Enfim, além do mais eu tenho o original, o TRUE NETRUNNER, o Netrunner de raiz, de macho, de cara que faz barba com navalha de olhos fechados, de cara que come rollmops, que curte X-frango onde o frango é coxa e sobrecoxa COM OSSO.

O que o Gustavo tem boa parte de verdade, e bem, os nossos decks já estavam ficando muito parecidos no final, quando a gente entendia que carta era usado contra qual e qual carta era indispensável, então acabou que cartas como o Howard eram esperadas em TODOS os decks dos amigos, e assim vai.